Leia antes de prosseguir

O que lerão a seguir não é pretensiosamente jornalístico apesar de eu ser formado em jornalismo. São simples recortes cubanos sob o meu olhar curioso, despretensioso quanto a algo educativo, cultural e até mesmo informativo. Por aqui, nada que eu não conte numa mesa de bar, talvez até com mais ênfase, pois os saberes são intercambiados. Portanto, se quiseres criticar o regime cubano, vá a alguma publicação que aceite seus argumentos, pois os comentários aqui serão moderados e não tolerarei disparates com relação à linguagem. Podemos até fazer algum debate sobre, mas reservo a mim o poder de decisão sobre publicar ou não algo que considere ofensivo a mim ou a qualquer outro item não listado aqui. Desculpem o ocasional baianês, mas é o meu jeito de escrever. Desculpem também a falta de linearidade. Como disse, não há pretensões extensas com a publicação desses recortes que não seja a da simples leitura de quem se interessar. Não quero criar discussões acerca do socialismo comparado ao capitalismo, liberdade de imprensa, liberdades individuais e outros argumentos que não nos levam a lugar algum.

28/05/2012

Madalena

Madeliyn é uma negra cubana de incisivos centrais quebrados, lenço sobre a cabeça, ancas largas e um sorriso onipresente. A sorveteira é apaixonada pelo Brasil, sua cultura, seu cinema, telenovelas e música. Me disse adorar Ivete Sangalo e conhecer muito da economia brasileira. Elogiou o ex-presidente Lula e disse que graças a ele muito da cultura brasileira tem chegado ao seu país, principalmente os filmes. Ela criticou duramente nossa democracia burguesa e assim como muitos outros cubanos com os quais tive uma boa conversa, disse não compreender os motivos que fazem de um país tão rico não saber dividir suas riquezas pensando no povo como engrenagem principal de toda máquina capitalista.

Bom, perguntei-lhe como não conseguia entender uma vez que tinha tanta informação. É porque eu sei que pessoas ruins cuidam do país e os poderes estão centralizados entre os mais ricos. Esses vão ficando cada vez mais ricos, enquanto as necessidades básicas se esvaem e o povo, real mantenedor das estruturas sociais, fica à margem da sociedade, elegendo inescrupulosos e escolhendo criminalidades diversas para terem poder de consumo e isso nós não queremos aqui. Não estamos acostumados a isso. Por isso, não entendo a distribuição errada da renda e a fartura de superfluidades em detrimento de uma vida mais saudável, honesta e justa, disse-me em português, o qual havia aprendido a falar com os filmes, livros e telenovelas.

Me senti envergonhado. Mas, que tal reproduzir o que muitos brasileiros (intelectuais até) dizem sobre a liberdade de imprensa? Ah, eles tem o Juventud Rebelde e o Granma que são aliados ao governo e, logicamente, produzirão e reproduzirão notícias que cabem ao poder. Mas, se com tanta informação sobre o Brasil ela largasse o doce sobre mim e falasse da Veja ou da Globo? Se ela citasse o caso da Escola Parque ou da edição do discurso do Lula em 89? Ou se ela falasse de uma certa exclusão da lista dos mais vendidos do livro “Privataria Tucana”, que mostra a omissão da nossa famigerada “liberdade de empresa”? Deixei quieto...

Prometi que manteria contato com ela e que enviaria alguns filmes brasileiros os quais ela não teve oportunidade de assistir, como “Estômago” e “Ó Pai, Ó”. Teria eu algum argumento para, pelo menos, balancear o papo? Saí pela tangente, pedi um sorvete de Naranja/Piña, sentei-me em frente à piscina e pus-me a refletir sobre a minha real condição de brasileiro no Brasil e minha condição de brasileiro em Cuba. Realidades...



Nenhum comentário:

Postar um comentário